sábado, 15 de setembro de 2012

Vermelhão


  Vermelhão

Lá acontece a festa do dia dos negros, jogos, campeonatos, festa junina...meu patrimônio é o Vermelhão onde eu nasci, cresci e vivi. Tenho orgulho da minha “Vila”. Tayrine/62

O Vermelhão é importante para a comunidade porque é lá que as crianças se divertem. Também porque é o local onde acontecem as festas, principalmente a Consciência Negra. Ádrini/61


A vila Maria da Conceição  possui uma  alta densidade  demográfica, a qual ocupou inclusive as áreas de praças da comunidade, restando apenas a área do Vermelhão, que mesmo assim possui várias famílias que construíram suas casas no entorno da praça.

Até meados dos anos oitenta não havia um único local destinado à prática de esportes na Maria da Conceição, então surgiu uma possibilidade: um terreno de aproximadamente 600 metros quadrados, situado na parte alta do morro, com uma bela vista da cidade, onde outrora montavam-se os circos - depois deles veio uma escola improvisada e mais tarde um depósito de material de construção do Município. Quando o depósito foi desativado a comunidade fez com que o terreno se transformasse num pequeno campo de futebol. Mas o terreno era de propriedade particular e a qualquer momento, quando o mercado imobiliário julgasse pertinente, poderia ser dada outra destinação. Seu Manoel, um senhor de 81 anos, 48 de Maria da Conceição, decidiu-se à luta para que o poder público adquirisse aquela área. E não era apenas isso: quis manter o “campinho de futebol da gurizada”. Em dezembro de 2001, numa manhã de domingo, Seu Manoel foi anfitrião do prefeito e de outras autoridades municipais que participaram do cerimonial de “posse do terreno”. Seu Manoel estava muito orgulhoso por ter sido um dos batalhadores para a conquista daquele espaço, uma luta que começara em 1992. A boa vontade do poder público não fora suficiente para que a negociação tivesse o êxito e a rapidez desejados. Foi preciso permutar o terreno com os proprietários e isto demorou mais do que o imaginado, com vários imprevistos no decorrer do processo. A insistência, com incontáveis audiências e peregrinações pela burocracia, exigiu muito esforço de Seu Manoel, como exigiria de qualquer trabalhador que além do seu sustento estivesse envolvido com os “problemas” da comunidade. Para o dia da inauguração, Da Tabela organizou um pequeno torneio entre equipes de crianças e adolescentes da Vila. A SME deslocou o ônibus Brincalhão, estacionado numa rua lateral, abaixo do nível do campo. Parte dos  brinquedos não puderam ser usados por falta de espaço, tendo a cama elástica permanecido (mal fixada) numa das bordas do Vermelhão. A certa altura a brincadeira foi interrompida para as falas do prefeito e demais autoridades, entre as quais seu Manoel. Em seu depoimento ele contou a história de como havia sido a luta para conquistar aquele espaço, sendo que de tempos em tempos havia uma pausa seguida de um olhar em direção ao prefeito e às demais lideranças locais que balançavam afirmativamente a cabeça. Ao final, mencionou os planos para incrementar o local e a importância que ele teria para as crianças do morro. Tempos depois o Vermelhão recebeu o tão sonhado telamento (alambrado), adquirindo uma nova “presença”. O mais importante, segundo Seu Manoel, é que agora ele está seguro de que aquela comunidade tem espaço para o “divertimento”. Ele sabe o quanto estes espaços são importantes na Vila e isto que ele nem liga para o futebol, orgulhando-se, assanhado, de nunca ter posto os pés no estádio do Grêmio e tampouco do Internacional. (Descrição construída a partir de vários diários de campo, desde a inauguração do Vermelhão (dezembrode 2001), visita ao local durante a realização do telamento e bate-papo/entrevista com Seu Manoel (julho/agosto de 2002)), realizada por Arlei Sander Damo, professor do Departamento de Ciências Humanas da Universidade de Santa Cruz do Sul..




                                                                       

Nenhum comentário:

Postar um comentário