domingo, 16 de setembro de 2012

Pequena Casa da Criança


Pequena Casa da Criança

Se não fosse a Pequena Casa não teria onde deixar as crianças para os pais trabalhar. As crianças ganham alimento, sapato...Isso que pra mim é o patrimônio da comunidade. Natalia/61


A Pequena Casa da Criança é importante porque é um tempo de alegria para as pessoas de rua, que trabalham no sinal. Sheron Evangelista/61
  
A Pequena Casa é um SASI, colégio, posto de saúde, igreja. Ela é patrimônio por estar há muitos anos na Vila Maria da Conceição, e ter um bom uso pelas crianças, adultos e idosos. Francielle/62      




Já se passaram 56 anos  desde que a irmã Nely Capuzzo,  da Congregação das Missionárias de Jesus Crucificado,  ao constatar  que uma  comunidade porto-alegrense vivia numa  realidade social de extrema vulnerabilidade e precisava de ajuda, direcionou sua vida e seu trabalho para fundar a Pequena Casa da Criança. Foi,  então,  em 1956, ao acreditar  na educação,  na possibilidade de mudança social, bem como no reconhecimento do seu trabalho, que a Imã Nelly deu início a grandes mudanças na comunidade da, então, Vila Maria Degolada. Atualmente, a padroeira da Pequena Casa da Criança, Nossa Senhora da Conceição empresta  o seu nome à comunidade. Sob  a presidência  da Irmã  Pierina, sucessora da  Irmã Nely, a Pequena Casa  segue empreendendo  transformações  através dos inúmeros projetos que desenvolve, com o auxilio dos colaboradores, doadores e  da   comunidade.  Hoje,  1.147 pessoas  da  comunidade,  incluindo  crianças, adolescentes e idosos, são atendidas pela Pequena Casa. Reconhecida como um centro comunitário por excelência, a Pequena Casa tem uma trajetória marcada por  ações de  educação,  profissionalização,  mobilização  comunitária e de  assistência social e um passado  de  muito trabalho,  cujos resultados  estão   no reconhecimento da sociedade.

CARTILHA DE PRINCÍPIOS DA PEQUENA CASA DA CRIANÇA

1.ATUANDO
na Pequena Casa da Criança, você estará atuando numa camada social infra-humana. A nutrição,habitação, educação e desenvolvimento tem como denominador comum o SUB. Por isso toda a atividade deve estar em função do meio ambiente.
2.TODO
Trabalho de educação e cultura deve partir da situação educacional, da linguagem local, ou da classe social em que se vai trabalhar.
3.SUA
Presença na obra já é um ensinamento. O seu ensino seja coerente e continuação desta 
4. A SOLUÇÃO
Do problema de uma pessoa não deve dar por encerrada a missão do profissional. Além da recuperação parcial, há outras metas ainda:
-integração na comunidade através dos movimentos existentes ou a serem criados caso sejam necessários;
-integração na política brasileira, pois o homem é também um produto de ações do meio.
5.DEVEMOS
Integrar-nos na política brasileira mas sem nos deixar conduzir pelos acontecimentos.
Devemos construir nós mesmos a nossa história. Entrar dentro dos acontecimentos para orientá-los.
6.A EDUCAÇÃO
É antes de tudo iniciação à vida pessoal. “ Uma educação de massa seria uma educação descoroada, como uma civilização de massa é uma civilização desumana”
7. A EDUCAÇÃO
Deverá levar o homem a realizar uma síntese total da existência, dando-lhe uma consciência do todo.
8. SENDO
A Palavra Divina que faz esta síntese humana, será, portanto, transmitida a palavra de Deus que permitirá o diálogo do homem com Deus e de Deus com o homem.
9. A EDUCAÇÃO
Deve visar o homem todo: social, espiritual e economicamente, pois só assim lhe dará a possibilidade de integrar-se no todo da existência. Cada ser humano é pessoa, i. é natureza dotada de inteligência e vontade livre.
10. A EVANGELIZAÇÃO
Deve atingir o homem lá onde ele se encontra, falando-lhe daquilo a que confusamente aspira: a justiça, o bem, a verdade, o absoluto.
11. É CONDENADO
Todo o trabalho de profissional nesta OBRA, que procurasse acomodar a pessoa humana com o meio em que vive.
12. TODO
Método ou sistema escolhido para a educação deve levar em conta a atual realidade. Só será válida a educação que dê ao homem condições concretas de libertar-se, de entender e resolver seus problemas.
13. NÃO
Se devem adaptar métodos ou sistemas. As pessoas merecem a criação de novos.
14. ENTRE
Os movimentos patrocinados pela OBRA, terão prioridade aqueles que são a união e libertação dentro das aspirações populares: movimentos comunitários, reuniões, debates, etc.
15. NENHUMA
Formação deve ser imposta. A atuação junto à pessoa deve ser em forma de DIÁLOGO.
16. TODA
Educação será em termos de participação efetiva. Toda a pessoa é sujeito da educação.
17. SERÁ
Considerada condenável toda a educação nesta OBRA que não englobar estes aspectos.
     Fonte: Miséria quem te gerou? Irmã Nely Capuzzo




         Esperamos pela Prefeitura durante dois meses para demolir a parte velha da casa. Falando com o diretor do Departamento de Habitação, este prometeu e não cumpriu. Como não podia  esperar mais, pois as aulas iniciariam em março, fiz um apelo aos moradores da  Vila  e,  no  fim  de  semana, 20  homens   apareceram  para trabalhar. Enquanto os adultos demoliam a casa, as crianças  iam carregando as telhas. Quem mais ajudou neste trabalho foram os “malandros”, aqueles  a quem  todos  atacam, inclusive os próprios moradores do morro. Convidei-os a darem uma mão e vieram. Com amor tudo se consegue, até mesmo que criminosos, maconheiros ou ladrões   cooperem  para   o  bem  comum. Enquanto o  prédio  ia  sendo demolido,  eu pensava: Como  é fácil  destruir!  Uma  casa  que demorou  mais  de  um ano  para ser  erguida, agora, em  24  horas  apenas, está  toda  destruída. Assim é a vida. Destruir  é muito fácil, o que é difícil é construir, por  isso  tantos destroem  e tão poucos  constroem. Com uma palavra podemos destruir anos de trabalho. Em  todos  os  campos  a destruição  é mais  fácil. Como devíamos cuidar para não destruir o próximo, para  não  apagar a “mecha que ainda fumega, para não quebrar o caniço rachado”. Apesar  desta  demolição ser necessária  para  construir  melhor, o  coração  humano  não  deixou  de   sofrer vendo cair  uma  a  uma  aquelas telhas,  paredes,  erguidas  com  tanto  sacrifício, mas é preciso morrer o grão para nascer o fruto. Terminada a demolição, aguardamos de novo pela Prefeitura e nada. Duas vezes  estiveram no  morro  para fazer  um   “levantamento” da necessidade  e ficou  nisso. O problema  agora  era a  remoção de dois barracos. Seus moradores  concordaram  em ceder o local para o colégio. O tempo corria  e  as  promessas  continuavam  em  apenas promessas.  A imprensa  se interessou pelo problema. O  repórter "Esso" noticiou   e nada. Vendo  que seria  uma  inútil  espera pelo  poder público, reunimos novamente  os moradores  e, em pouco tempo, fizeram as duas remoções. Não sei onde há mais desonestidade, se no morro, onde malandros, maconheiros e ladrões são conhecidos como tais, ou se nas repartições públicas, onde  a desonestidade  está  ocultada pela gravata e fatiota. Quando pedi colaboração do Departamento de  Habitação,  o  Diretor ,  que  me  mandou  falar  com  o  Diretor Administrativo  para  acertar  a  ida  dos  operários, prometeu que iria  ajudar pois a obra estava colaborando com ele. Fui esperançosa falar com este subalterno, mas qual não foi a minha surpresa quando este me diz: Como? O Diretor sabe  que  eu não  tenho  pessoal, e como manda a senhora falar comigo?!!... Diante disto  eu nem  tentei voltar ao Diretor Geral. O  mesmo  aconteceu   noutra repartição. Falei com o Secretário, este despachou meu pedido  e  mandou-me a   um Diretor   para   acertar  as  formalidades   legais,  inclusive   dizendo-me  que  já  havia conversado  com ele  a  respeito. O Oficial de Gabinete  deixou-me na sala do Diretor e retirou-se. Fui  recebida  de  má  vontade. O  Diretor  se  pôs  na  minha  frente  e perguntou o que eu desejava. Mas o Senhor Secretário já não lhe falou a respeito? Não, não  sei  de  nada.  Expus-lhe  em  rápidas  palavras e ele  me  respondeu: Senhora, volte segunda-feira  que  vamos estudar seu caso... Mas o Secretário já despachou, disse    que  não há problema algum. Isto é  coisa  do Secretário,  disse  levantando-se para atender o telefone. Diante disso  despedi-me e voltei  ao Oficial de Gabinete. Eu queria  uma informação  sua.  Pois não  irmã.  Podia me informar  em quem se deve acreditar? Se na palavra  do Senhor Secretário  ou a do Diretor  a quem o senhor me levou? Porque esta pergunta? Porque falando ontem com o Senhor Secretário ele me disse uma coisa, falando hoje com aquele Diretor, ele  me disse  ao contrário, inclusive desmentiu o que o Secretário havia dito. O Oficial de Gabinete deu um sorriso amarelo e ficou meio confuso. Foi lá dentro e mostrou-me o despacho do Secretário, mas eu continuava na dúvida em quem se deve acreditar? Recorri a vários órgãos, solicitando operários para erguer o novo pavilhão durante o período de férias. Numa determinada Secretaria um Diretor me disse: Nós lhe faremos o projeto. Agradeci e perguntei-lhe quando estaria pronto. Estávamos em dezembro. O prédio precisava ficar pronto em março. O Diretor sabia da urgência do pedido, inclusive eu estava acompanhada da esposa do Secretário que também prometera operários. Daqui um mês mais ou menos. Quer dizer que ele me daria o projeto em fevereiro. Até pensei que ele estivesse brincando comigo. Como poderia o prédio ficar pronto em março? Saí dali deprimida e resolvi deixar de lado o poder público. Iniciei a obra com os próprios moradores. Eu mesma teria que ser arquiteto, engenheiro e construtor. Consultei vários técnicos amigos e experientes e a eles recorria, sempre que necessário. Com fé em Deus e ajuda dos moradores, iniciamos a construção, e as aulas puderam recomeçar no início do ano letivo.
               Fonte: Do porão da humanidade, Irmã Nely Capuzzo
  



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