domingo, 16 de setembro de 2012

Gruta da Maria Degolada


Gruta da Maria Degolada

Foi um crime que aconteceu a muito tempo em que uma mulher chamada Maria Francelina teve o pescoço cortado por seu marido essa história tem  muita importância para o Morro Maria da Conceição por ser muito conhecida. Júlia/61

Para mim a gruta da Maria Degolada é legal, diz que ela funciona para realizar pedidos. Maria Lohanna/61 



No dia 12 de novembro de 1899, uma mulher foi brutalmente assassinada por seu amante. A tragédia alcançou enorme repercussão por sua brutalidade, ficando registrada nos anais criminais porto-alegrenses. O crime permaneceu desconhecido em seus detalhes pelo espaço aproximado de um século, pois sabia-se apenas através da melhor maneira folclórica, isto é, transmissão oral, que uma mulher fora degolada por um soldado miliciano. Desconhecia-se o nome da vítima, a data, o nome do criminoso, enfim, detalhes do acontecimento. Esta desinformação coletiva gerou inúmeras lendas e fatos, todos conferindo à infeliz vítima dotes excepcionais, culminando com a santificação popular, atribuindo-lhe a feitura de verdadeiros milagres como curas julgadas impossíveis, aproximação exitosa de amores contrariados e mais coisas desse jaez. Graças à iniciativa do Arquivo Público do Estado, conservador de processo alusivo ao fato, foi possível restaurar a verdade.

OS PERSONAGENS
A vítima chamava-se Maria Francelina Trenes, de nacionalidade alemã. Contava 21 anos de idade ao ser assassinada. No processo o nome aparece grafado diferentemente: Trene, Trenes, Ternes e Tremes. Está sepultada no jazigo n° 741 no Campo Santo da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre. Era solteira, no processo aparece como amásia do assassino. O criminoso, Bruno Soares Bicudo, servia na Brigada Militar com o sobrenome de Brum. Natural de Uruguaiana, solteiro e analfabeto. Como testemunhas do crime aparecem os soldados da Brigada Militar Felisbino Antero de Medina, Francisco Alves Nunes e Manuel Antônio de Vargas.

O LOCAL
O local onde se desenrolou o drama que ficou conhecido como crime da Maria Degolada, ou Maria do Golpe, situa-se na falda leste do Morro do Hospício, no arraial do Partenon. Constitui hoje a chamada Vila Popular Maria da Conceição, mas que o vulgo continua a batizar de Maria Degolada

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O CRIME
No dia 12 de novembro de 1899, quatro soldados  do 1° Regimento de Cavalaria da Brigada Militar do Rio Grande do Sul, encontrando-se de folga e por ser um domingo em plena estação primaveril, acompanhados de outras tantas mulheres, resolveram aproveitar os crimes para os prazeres de om pic-nic, como se encontra descrito no processo. Escolheram para o local o Morro do Hospício, nas proximidades da Chácara das Bananeiras, onde serviam. Após terem saboreado um churrasco, conforme haviam programado, quando os relógios marcavam mais ou menos 15 horas, o soldado de nome Bruno Soares Bicudo, por motivos de ciúmes, após haver discutido com sua acompanhante, enraivecido e pretextando mais tarde uma possível agressão da vítima, subjugou-a, degolando-a a seguir. Seus companheiros, embora não distantes do exato local da tragédia, não puderam evitar que esta se consumasse, pela rapidez com que foi cometido o ato brutal. Seus companheiros tentaram prendê-lo, desistindo de fazê-lo porque se encontravam desarmados e porque ele ainda empunhava a faca com a qual tirara a vida de sua companheira. Além da faca trazia consigo ainda, um pedaço de ferro. Um dos colegas tomou a iniciativa de imediatamente comunicar o fato ao comandante do destacamento a que pertenciam localizado na Chácara das Bananeiras. No quartel foram tomadas as providências devidas, enviando uma escolta que prendeu o assassino. O cadáver da vítima foi conduzido à repartição policial onde foi examinado por quem de direito.

DEPOIMENTO DE FRANCISCO ALVES NUNES, PRESENTE NO LOCAL E HORA DO CRIME
“que a vítima entendeu dirigir chufas ao denunciado, que era seu amásio, dizendo-lhe que tinha outro homem com quem pernoitar suscitando-se por isso uma discussão entre ambos, a qual tornando-se calorosa deu lugar a que o depoente e seus companheiros intervissem, chegando mesmo a vítima a lançar mão do porrete e de um pedaço de ferro para com eles agredir o denunciado, que julgando a contenda terminada trataram os companheiros de tomar café, ficando o denunciado e a vítima a sós, um pouco retirado deles;que, pronto o café voltando o depoente a chamar o denunciado para bebê-lo notou que ele havia assassinado a vítima, usando de uma faca, pelo que o depoente com os demais companheiros promoveram a prisão do denunciado.”

A PENA
“ Em conformidade das decisões do Jury, julgado o reo Bruno Soares Bicudo incurso no grao máximo do art. 294, S 1° do Código Penal da Republica e  condena a trinta annos de prisão celular que ex vi do art.409 do mesmo Codigo converte em prisão com trabalho que o reo cumprirá na Casa de Correção desta capital, e, bem assim, no damno causado e nas custas”
“Comunicado o resultado do Juri ao Comandante Geral da Brigada Militar, este ordenou sua exclusão da Força, encaminhando-o à Casa de Correção no dia 22 de fevereiro de 1900.”
 “Nesse estabelecimento penal o reo permaneceu até o dia 19 de setembro de 1906, quando faleceu em consequência de ‘Nephrite intestinal’, conforme atestou o médico da Casa de Correção Dr. João Pitta Pinheiro.”






O MITO
Dentre os muitos “milagres” atribuídos aos “sobrenaturais” poderes da infeliz vítima da degola, iniciamos salientando a importância que os seus crentes nela depositam, por meio da existência de grande número de ex-votos, de velas permanentemente acesas e de ramalhetes de flores.
Na época do crime existia, em uma parte da falda leste do Morro do Hospício, uma velha e frondosa figueira, sita nas proximidades de uma pequena pedreira desativada. Tanto a figueira como a pedreira fazem parte desta história.
Há os que afirmam de pés juntos que a vítima vivamente apaixonada por um soldado da Brigada Militar, não tendo sido correspondida, enforcou-se num galho da árvore, sendo enterrada junto a pedreira. É uma variante da morte de Maria Francelina. A figueira passou a ter poderes medicinais, pois pedaços de cascas do seu tronco eram utilizados para a feitura de mesinhas. Por sua vez a pedreira, através de água concentrada em concavidades da escavação, passou a ser vendida em pequenos frascos por pessoas inescrupulosas, que afirmavam possuir a mesma poderes de cura para várias moléstias. Quer a figueira, quer a pedreira já não mais existem.
Para muitas pessoas a vítima era moça donzela, isto é, virgem. Outros afirmam que era anã. Muitos acreditam que ela se encontra enterrada junto à figueira, ou no local onde existia a figueira. Há mesmo quem afirmasse que seu enterramento aconteceu no vizinho município de São Leopoldo.
Há inúmeras versões a respeito das aparições de Maria Degolada. Uma delas diz que Maria Degolada é venerada durante o dia, mas que a noite costuma passear no escuro. Aparece toda vestida de branco (símbolo da pureza), mas ensanguentada no peito (alusão ao seu degolamento). Outra versão nos conta que ela frequentemente surge sentada em uma pedra junto à figueira, e que, sempre que chove, aparecem manchas de sangue em cima da pedra. Há os que acreditam que a morte violenta de Maria Francelina foi devida a não ter aceito proposta indecorosa de seu noivo, que tentou mesmo, violentá-la. Reagiu, e o resultado dessa reação foi sua morte trágica.
O cronista Ary Veiga Sanhudo escreveu que em determinada data, sem precisa-la e sem saber-se quem teria sido o receptor, em uma sessão espírita, teria revelado sua inconformidade em ser conhecida por uma alcunha tão deprimente e aviltante. A partir daí passou a ser tratada como Maria da Conceição.
Em uma longa reportagem o jornalista Augusto Schmit, no jornal Zero Hora de 31/08/1986, registrou: ”Nas noites de céu limpo e de lua brilhante, um vulto de mulher, vestida de noiva, costuma passear entre os casebres miseráveis da Vila Maria da Conceição. Ela anda com a mão direita segurando a garganta e solta gemidos de dor. Os moradores da Vila já se acostumaram com ela. E não chamam de fantasma, mas de santa.”
Por ter sido assassinada de maneira cruel por um soldado da Brigada Militar, afirma-se que Maria não atende pedido de brigadiano, “porque foi um brigadiano que matou ela”. Afirma-se ainda que em suas aparições e passeios, se acontece Maria Francelina topar com um brigadiano, ela investe furiosamente contra o mesmo.
A pesquisa realizada entre os alunos da Escola Estadual de Ensino Fundamental Santa Luzia em 2012, mostra que a versão mais difundida ente os estudantes oriundos da Vila Maria da Conceição na faixa etária entre 11 e 17 anos é a de que se chamada três vezes, diante do espelho com uma vela acesa a meia noite, Maria Degolada aparece. Os estudantes ainda manifestaram medo (de passar pela gruta à noite), respeito e, para alguns ela ”cura mesmo” e atende pedidos.
                                                                                         Fonte: Maria Degolada – Mito ou Realidade?
                          Arquivo Público do Estado do Rio Grande do Sul




2 comentários:

  1. Muito bom seu artigo ta excelente, fiz um artigo sobre a Maria Degolada também ,se der passe lá e dê uma conferida e diga o que achou.
    Parabéns pelo site, ta fazendo um ótimo trabalho!

    Maria Degolada

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  2. Qual o endereço exato da gruta dela? Gostaria de ir lá!

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