Atividades do Projeto de Educação
Patrimonial da Escola Santa Luzia
1. Observação
Roda do Patrimônio
Perguntei aos alunos o que entendiam
por patrimônio e as respostas foram bem interessantes: “É algo de valor”, “É o
que se deixa de herança”, “É da pátria”. Considerei-as satisfatórias como ponto
de partida, porque nesta etapa do trabalho interessa deixar com que se movam
livremente em torno do conceito, realizando articulações com suas experiências
de vida e observar as contextualizações que os alunos fazem para o vocábulo
patrimônio. Foram apresentados aos alunos que estavam dispostos em roda,
objetos ou imagens que registram bens culturais materiais e imateriais e bens
naturais enumerados de um a doze: chimarrão, fotografia de edificações e
paisagens, pinturas, artesanato, instrumento musical... Durante o contato
sensorial dos alunos com os objetos dispostos, pedi-lhes que fizessem um
registro bem simples:
- Para vocês, quais destes objetos e
imagens podem ser considerados patrimônio?
- Descreva o objeto ou imagem em uma
palavra
A
partir da análise dos registros feitos pelos alunos, iniciei uma conversa a fim
de trabalhar o conceito de patrimônio. Houve divergências entre praticamente
todos os bens culturais e naturais quanto ao questionamento - Para vocês, quais
destes objetos e imagens podem ser considerados patrimônio? Mas a grande
maioria, 90% dos alunos afirmaram que as edificações da Praça da Matriz em
Porto Alegre, o chimarrão e a Festa de Santo Antônio, realizada no bairro da
escola são patrimônio. Portanto consideraram a priori patrimônio, aquilo que
faz parte das suas vidas, das suas histórias. Mas como o chimarrão, as
edificações da praça da Matriz e a Festa de Santo Antônio que tem um longo
passado chegaram até os dias de hoje? Responderam: “guardando”, “cuidando”,
“passando de pai pra filho”. Patrimônio é o legado que recebemos do passado, vivemos
no presente e transmitimos às futuras gerações. Mas para que isso aconteça é
importante a preservação. Também foi unanimidade entre os
alunos que o quadro Os retirantes, de
Cândido Portinari, não era patrimônio, a este, atribuíram em suas descrições:
“feio”, “horrível”, “pobre”. Então lhes perguntei se apenas o bonito e o rico
deveria ser preservado e responderam que sim. Mas a história não é feita apenas
do bonito e do rico não concordam? Existe a miséria, as injustiças, as
desigualdades, as violências, as guerras... Estes acontecimentos não devem ser lembrados?
Filme: O grande Tambor seguido de debate
O Filme O Grande Tambor colaborou no
sentido de trabalhar o conceito de
patrimônio enquanto discurso e perceber que investe-se de importância um
objeto, lugar, conhecimento, ritual, modo de vida, festas, comemorações,
personagem... Os vestígios do passado são selecionados pelas sociedades para
lembrar o passado que estas escolheram e o sentido do passado está em disputa por
diferentes atores sociais. A partir do entendimento de que a presença e
influência negra é ocultada na história do Rio Grande do Sul, estado que forjou
sua europeização e que se representa através de um gaúcho branco montado à
cavalo, os alunos reconheceram a importância da preservação, assim como da
produção de outras memórias e sua análise. É desta forma que o Tambor de Sopapo
evoca a memória do trabalho escravo nas charqueadas, as estratégias de
resistência cultural dos negros escravizados, a traição aos Lanceiros Negros
durante a Revolução Farroupilha, a história do Carnaval do Rio Grande do Sul...
2. Registro
Foram realizadas saídas de campo com os
alunos com o objetivo de fotografar os bens culturais escolhidos por eles como
Patrimônio da Comunidade.
3. Exploração
Nesta etapa do trabalho foi realizada a
análise das fotografias dos bens culturais da comunidade tiradas pelos alunos.
Realizamos pesquisa em livros e na internet sobre a história dos bens
registrados. A leitura do material encontrado foi realizada de diferentes formas:
leitura de livros em grupo, leitura de histórias pela professora, leitura oral
pelos alunos e leitura de textos localizados na internet. Buscamos responder a
inúmeros questionamentos: Como a história da Maria Degolada acontecida há mais
de cem anos, entre tantas outras prostitutas assassinadas chegou até nós?
Porque o nome da Vila e da Francelina passou de Maria Degolada à Maria da Conceição?
Porque o nome da nossa escola era A Vila Santa Luzia? Porque a Escola de Samba
Academia Samba Puro teve seu samba enredo censurado em 1989, se a ditadura
militar já havia acabado? Muitas destas perguntas geraram novos
questionamentos, teorias erradas foram formuladas e depois esclarecidas e
algumas questões permanecem sem resposta. Neste sentido esta etapa do trabalho
se mostra um processo, sem fim. Continuamos levantando dados, realizando
entrevistas, buscando preencher as lacunas da história. Ainda fazem parte da
etapa de exploração o percurso Territórios Negros em Porto Alegre e a visita ao
Arquivo Público do estado do Rio Grande do Sul, na qual os alunos participaram
da oficina de Educação Patrimonial Os Tesouros da Família Arquivo.
4. Apropriação
Sistematização das informações
pesquisadas em um blog - espaço virtual de memória comunitária e de
socialização da experiência pedagógica, intitulado O Poder da Memória.
Tombamento simbólico com a entrega do Prêmio Patrimônio da Comunidade em festa comunitária realizada na Escola Santa Luzia
Exposição
fotográfica na Festa da Consciência Negra da Vila Maria da Conceição
Tombamento simbólico com a entrega do Prêmio Patrimônio da Comunidade em festa comunitária realizada na Escola Santa Luzia
lEGAL!
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