segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Atividades do Projeto de Educação Patrimonial da Escola Santa Luzia


Atividades do Projeto de Educação Patrimonial da Escola Santa Luzia

1. Observação

Roda do Patrimônio

Perguntei aos alunos o que entendiam por patrimônio e as respostas foram bem interessantes: “É algo de valor”, “É o que se deixa de herança”, “É da pátria”. Considerei-as satisfatórias como ponto de partida, porque nesta etapa do trabalho interessa deixar com que se movam livremente em torno do conceito, realizando articulações com suas experiências de vida e observar as contextualizações que os alunos fazem para o vocábulo patrimônio. Foram apresentados aos alunos que estavam dispostos em roda, objetos ou imagens que registram bens culturais materiais e imateriais e bens naturais enumerados de um a doze: chimarrão, fotografia de edificações e paisagens, pinturas, artesanato, instrumento musical... Durante o contato sensorial dos alunos com os objetos dispostos, pedi-lhes que fizessem um registro bem simples:

- Para vocês, quais destes objetos e imagens podem ser considerados patrimônio?
- Descreva o objeto ou imagem em uma palavra

A partir da análise dos registros feitos pelos alunos, iniciei uma conversa a fim de trabalhar o conceito de patrimônio. Houve divergências entre praticamente todos os bens culturais e naturais quanto ao questionamento - Para vocês, quais destes objetos e imagens podem ser considerados patrimônio? Mas a grande maioria, 90% dos alunos afirmaram que as edificações da Praça da Matriz em Porto Alegre, o chimarrão e a Festa de Santo Antônio, realizada no bairro da escola são patrimônio. Portanto consideraram a priori patrimônio, aquilo que faz parte das suas vidas, das suas histórias. Mas como o chimarrão, as edificações da praça da Matriz e a Festa de Santo Antônio que tem um longo passado chegaram até os dias de hoje? Responderam: “guardando”, “cuidando”, “passando de pai pra filho”. Patrimônio é o legado que recebemos do passado, vivemos no presente e transmitimos às futuras gerações. Mas para que isso aconteça é importante a preservação. Também foi unanimidade entre os alunos que o quadro Os retirantes, de Cândido Portinari, não era patrimônio, a este, atribuíram em suas descrições: “feio”, “horrível”, “pobre”. Então lhes perguntei se apenas o bonito e o rico deveria ser preservado e responderam que sim. Mas a história não é feita apenas do bonito e do rico não concordam? Existe a miséria, as injustiças, as desigualdades, as violências, as guerras... Estes acontecimentos não devem ser lembrados?



Filme: O grande Tambor seguido de debate

O Filme O Grande Tambor colaborou no sentido de  trabalhar o conceito de patrimônio enquanto discurso e perceber que investe-se de importância um objeto, lugar, conhecimento, ritual, modo de vida, festas, comemorações, personagem... Os vestígios do passado são selecionados pelas sociedades para lembrar o passado que estas escolheram e o sentido do passado está em disputa por diferentes atores sociais. A partir do entendimento de que a presença e influência negra é ocultada na história do Rio Grande do Sul, estado que forjou sua europeização e que se representa através de um gaúcho branco montado à cavalo, os alunos reconheceram a importância da preservação, assim como da produção de outras memórias e sua análise. É desta forma que o Tambor de Sopapo evoca a memória do trabalho escravo nas charqueadas, as estratégias de resistência cultural dos negros escravizados, a traição aos Lanceiros Negros durante a Revolução Farroupilha, a história do Carnaval do Rio Grande do Sul...

 Nesta etapa do trabalho se deu a sondagem do que os alunos identificam como patrimônio da comunidade: Escola Santa Luzia, Igreja e Festa de Santo Antônio, Gruta da Maria Degolada, Pequena Casa da Criança, Academia Samba Puro, Vermelhão e Academia do Morro.






2. Registro

Foram realizadas saídas de campo com os alunos com o objetivo de fotografar os bens culturais escolhidos por eles como Patrimônio da Comunidade.

3. Exploração

Nesta etapa do trabalho foi realizada a análise das fotografias dos bens culturais da comunidade tiradas pelos alunos. Realizamos pesquisa em livros e na internet sobre a história dos bens registrados. A leitura do material encontrado foi realizada de diferentes formas: leitura de livros em grupo, leitura de histórias pela professora, leitura oral pelos alunos e leitura de textos localizados na internet. Buscamos responder a inúmeros questionamentos: Como a história da Maria Degolada acontecida há mais de cem anos, entre tantas outras prostitutas assassinadas chegou até nós? Porque o nome da Vila e da Francelina passou de Maria Degolada à Maria da Conceição? Porque o nome da nossa escola era A Vila Santa Luzia? Porque a Escola de Samba Academia Samba Puro teve seu samba enredo censurado em 1989, se a ditadura militar já havia acabado? Muitas destas perguntas geraram novos questionamentos, teorias erradas foram formuladas e depois esclarecidas e algumas questões permanecem sem resposta. Neste sentido esta etapa do trabalho se mostra um processo, sem fim. Continuamos levantando dados, realizando entrevistas, buscando preencher as lacunas da história. Ainda fazem parte da etapa de exploração o percurso Territórios Negros em Porto Alegre e a visita ao Arquivo Público do estado do Rio Grande do Sul, na qual os alunos participaram da oficina de Educação Patrimonial Os Tesouros da Família Arquivo.



















4. Apropriação

Sistematização das informações pesquisadas em um blog - espaço virtual de memória comunitária e de socialização da experiência pedagógica, intitulado O Poder da Memória.


Exposição fotográfica na Festa da Consciência Negra da Vila Maria da Conceição





 Tombamento simbólico com a entrega do Prêmio Patrimônio da Comunidade em festa comunitária realizada na Escola Santa Luzia






  





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