Faltava
era uma oportunidade
Na Conceição, primeiro nós fundamos a Escola Unidos da
Conceição, que terminou, antes do primeiro desfile, despois nós fundamos o Ari
Barroso, antes de fundarmos a Sampa Puro. O Ari Barroso, era num prédio que
ainda existe na Mário de Artacão, em frente o Vermelhão. Formamos uma
diretoria, eu, Mestre Papai, João das Guias, Colete, Bolachão, e botamos mão à
obra, promoção, ensaio, som, nos fins de semana.
Ao final de cada ensaio na quadra, na hora de conferir
os lucros, sempre se comentava os acontecimentos e, todos os dias, tinha uma
bronca e o causador era sempre o mesmo. Um dia ele abusou com a mulher de
alguém, no outro, deu uma garrafada num componente, botaram o cara pra rua, e
ele arrebentou o telhado a pedrada. A coisa estava demais, era preciso parar o
cara.
Mestre Papai, na sua santa calma e sabedoria, disse: “Me
traz o Sabonete aqui. Lá pelas três da tarde, deixa ele dormir e pegar ele de
cara limpa”.
Três horas, nós lá e chega os guri escoltando o
Sabonete, este era o apelido dele. Mestre Papai fala: “Senta Sabonete. E eu
mandei te chamar, porque a escola esta precisando um cara assim como tu, que se
criou no morro e conhece todo mundo, que saiba lidar com os rebeldes e nós,
lembramos de ti, quer fazer a segurança pra nós?”
Enchemos a bola dele e ele aceitou, cheio de si,
prometeu solenemente manter a ordem e a segurança do local. “Tá, já começa
hoje!” Demos um crachá, onde ele é o chefe da segurança. Ele, um cara que
sempre andava sujo e bêbado, a partir daquele dia, ia aos ensaios de cara
limpa, banho tomado e roupas limpas e claro, com crachá no peito. O nego dava
qualquer vacilada, e lá estava ele, advertindo: “Te comporta, senão eu te boto
pra rua!”. E tudo voltou à normalidade e o trabalho do Sabonete, foi tão
essencial, que ao fim de cada ensaio, levava até uma merreca. O que faltava era
o cara ter uma oportunidade.
Fonte: Clínica
Geral – Memórias do Mestre Paraquedas
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