Escola
Santa Luzia
A Escola Santa Luzia é um bem
cultural. Ela é importante para o aprendizado dos alunos, para a educação das
pessoas.Tainara/61
Esse colégio é importante para a
comunidade e para os alunos que nele estudam. É importante para o nosso futuro.
Porque se não estudarmos, não teremos bons futuros. Edson/62
O Grupo Escolar À Vila Santa Luzia criado em 05/10/1968, situava-se inicialmente
na rua G 750, na Vila Santa Luzia. Devido a precariedade das instalações
mudou-se em 04/03/1970 para a rua Delfino Riet, 525, Bairro Santo Antônio, funcionando da 1° a 5°
séries. Em 1975 é autorizado funcionamento da 6° série e em 1977 da 7° e 8°
séries, passando a se chamar a partir de 1980 Escola Estadual de 1° grau Santa Luzia.
Atualmente denominada Escola Estadual de Ensino Fundamental Santa Luzia conta
com seis salas de aula, uma sala adaptada para biblioteca e Supervisão, uma
sala para a direção, uma sala para secretaria, sala multimídia, brinquedoteca,
pracinha, quadra poliesportiva, sala digital, refeitório e três banheiros.
Estão
matriculados 270 alunos no Ensino Fundamental, a maior parte deles oriundos da
Vila Maria da Conceição, também conhecida como Maria Degolada. Filhos de uma comunidade
que como tantas outras é historicamente privada de direitos sociais básicos à
dignidade humana: educação, saúde, habitação, trabalho, cultura... estas
crianças e adolescentes vivenciam cotidianamente situações de violência, tem
suas famílias desagregadas, envolvimento com o consumo e tráfico de drogas, maternidade
precoce... fatores determinantes para a carência afetiva e de conhecimento que
leva a repetência e evasão escolar. Apesar de todo este quadro, a comunidade da
Vila Maria da Conceição tem uma bonita e longa história de mobilização social e
luta por direitos fundamentais, além da valorização da cultura local através de
entidades bastante atuantes como a Pequena Casa da Criança e a Academia Samba
Puro. Neste sentido a Escola Estadual de Ensino Fundamental Santa Luzia tem
buscado ampliar os laços entre a escola e as famílias, representadas através do
Círculo de Pais e Mestres e Conselho Escolar. A integração da Escola com a comunidade
favorece a aprendizagem dos alunos e torna o processo educativo contextualizado
e significativo, potencializa a reflexão e aponta para a transformação.
Histórico
de direções da escola:
Yeda
Simões Pires (1970)
Maria
Helena Rocha (1975)
Rosário
Evangelista (1981)
Clecy
Maria Lopes Bicca (1981)
Célia Fernandes Costa Zanini (1988)
Claudete Yeda Luchini (2000)
Cíntia Valéria Saraiva Portela
(2002)
5 de outubro de 2012 - Escola Santa Luzia comemorou 44 anos de atividade
Santa Luzia: A vila que deu nome à escola
Vila Santa Luzia em 1956
Vila Santa Luzia em 1956
A Vila Santa Luzia existiu desde 1943
ocupando uma área pertencente à Chácara Bastian, depois chamada de Chácara dos
marítimos (vinculado ao INSS). A vila em
1948 ocupava uma área de 1. 550
m² tendo dois
arroios sem nome e de pequeno porte que cercavam suas laterais. Nas suas
cercanias localizava-se o campo do Esporte Clube Cruzeiro, o chamado Estádio da
montanha, onde hoje situa-se o Cemitério João XXIII.
Em 1948 há registros de um pedido de carros
d’água à prefeitura e instalação de uma torneira para o suprimento da vila teve
apoio da câmara, sendo cumprido pelo prefeito Ildo Meneghetti no final do mesmo
ano. Algumas palavras registradas nesse pedido descrevem a situação: “muitos
são os sacrifícios que enfrentamos nesta espécie de habitação, pela necessidade
de morar, mas o pior é não termos água. É impressionante de se ver, diariamente
e todas as horas, pessoas de todas as idades e até mesmo senhoras em estado
interessante subirem aquelas ladeiras da Praça do Campo do Cruzeiro, com latas
de querosene, para terem um pouco de água”. Pelo relato pode-se induzir que a
região em que buscavam água era a chamada Vila Caiu do Céu. A Igreja Santo
Antônio do Partenon participava
ativamente da vida social da vila Santa Luzia. Por exemplo, entre os meses de
abril e maio de 1948 a
paróquia realizou “santas missões” na Vila dos maloqueiros (como chamavam os
populares) com o intuito de legitimar casamentos e arrebanhar fiéis. Em
novembro de 1949, a
igreja estimava que existissem mais de 500
malocas na Vila. Segundo eles, 70% dos moradores eram católicos. Com o objetivo
de criar uma capela, que também servisse de escola, o vigário, investido de tal
missão, foi ao prefeito municipal, ao que foi aconselhado a não tomar tal
iniciativa, posto que era intenção da prefeitura remover as malocas para a vila
São José, no arrebalde João Pessoa. Contudo, os moradores que já haviam se
organizado em uma associação – a Sociedade de Reivindicações dos Marginais da
Vila Santa Luzia -, tendo como objetivo, entre outros, a construção de uma
escola, apesar da negativa do prefeito, juntamente com o vigário levaram
adiante seu projeto. Construíram um prédio de madeira de 6 por 12m, em frente
ao posto policial e a pena d’água. Tempos depois, a Secretaria da Educação
destacaria duas professoras para o local, onde o padre dava aulas de catequese.
Nesse período, a mesma prefeitura que afirmara anteriormente a intenção de
remover as malocas, voltava atrás e afirmava a pretensão de promover o
loteamento da área e ceder os terrenos para os próprios moradores. Em 1949, a prefeitura declarou
de utilidade pública e desapropriou a área em que estava localizada a Vila
Santa Luzia, mas o futuro mostraria que aquelas terras seriam utilizadas para
outros fins que não a permanência dos moradores no local. Em 1954, a Sociedade de
Reivindicações dos Marginais da vila Santa Luzia mantinha a escola com 70
alunos no curso primário em dois turnos. Contavam também com um pequeno
laboratório e atendimento médico e ainda possuíam uma pequena farmácia com
amostras grátis que não dava vencimento as solicitações. A vila já tinha quase
7 mil habitantes. Em 25 de julho de 1957, o decreto 1208 assinado pelo prefeito
Leonel Brizola, criava na Santa Luzia uma escola primária, denominada Senador
Alberto Pasqualini. Em julho de 1958 há registros de que a Câmara reclamava um
melhor cuidado da prefeitura com a vila, pois entendia-se que ela estava cada
vez mais abandonada pelo município. Pedia mais torneiras, que arrumassem as
vielas e capinassem as valetas. Célio, Vereador na época e delegado do bairro
Azenha, assim descreve a vila: “As malocas da Santa Luzia eram habitações
precárias e insalubres. Construídas com caixões e latas de zinco. Não davam
proteção contra o frio, o sol e a chuva. A luz era de vela e lampião. As
privadas eram ao ar livre. Separando as habitações e servindo de ruas existiam
vielas imundas, tortuosas e asfixiantes. A água era retirada de poucas
torneiras, poços e cisternas. Nada fizera a prefeitura para proporcionar-lhe
melhores condições de vida.” Em dezembro de 1964, foi realizado levantamento
socioeconômico nas vilas e agrupamentos marginais de Porto Alegre pelo
Departamento da Casa Popular (atual DEMHAB). Neste levantamento, constara que
na Santa Luzia já viviam 1320 famílias ou 6376 pessoas. As famílias sendo assim
distribuídas: 914 do interior do estado; 154 de outros estados; 16 famílias que
morava na vila desde a sua origem em 1943. Há registros de que em 1966 a Igreja Santo Antônio
faria funcionar à noite, na Vila Santa Luzia, uma escola para alfabetização e
um curso supletivo. (SERÁ A ORIGEM DA NOSSA ESCOLA?)
O PROCESSO DE REMOÇÃO
Conforme a zero hora de 24 de abril de
1971, cerca de 10.000 habitantes da Vila dos Marítimos e Santa Luzia, teriam
sido avisados pelo DEMHAB que seriam removidos na semana seguinte. Tais
famílias deveriam ser levadas para a Restinga Velha. O processo de remoção foi
tenso, cerca de 300 moradores liderados por Sebastião Pereira da Silva tentaram
dialogar com o DEMHAB para estender o prazo das remoções e a resposta foi “já
esperamos demais” O que ocorreu foi que a Cooperativa de Habitação dos
Funcionários da Prefeitura Municipal de Porto Alegre adquiriu o terreno que
antes pertencia ao INSS para construir um núcleo residencial para seus
associados. Foi a Cooperativa que pediu e pagou pela remoção, realizada pelo
DEMHAB. As remoções aconteceram a força, doentes, famílias sem lugar para onde
ir, crianças estudando, inclusive em dias de chuva o DEMHAB removia de cinco a
seis casebres por dia, levando–os normalmente para a Restinga Velha onde as
malocas eram depositadas.
Informações extraídas da dissertação de
mestrado de Vanessa Zamboni, intitulada Construção
social do espaço, identidades e territórios em processos de remoção: O caso do
Bairro Restinga – Porto Alegre/RS
A autora relata que ao procurar informações
sobre a Vila Santa Luzia no Acervo Histórico Moisés Velhinho o funcionário, a
princípio nada encontrou. A autora comentou que a vila ficava situada próxima
ao próprio Acervo Histórico e ele respondeu “ Não temos documentos catalogados
sobre este local”. Então sugeriu que fosse feita uma busca no sistema por
Bairro Santo Antônio, já que lhe pareceu que a Vila Santa Luzia havia sido
apagada da memória oficial de Porto Alegre. Foi encontrado um arquivo
denominado Santo Antônio - Cyro Martini.
Este fora vereador da cidade e morador do bairro, conta, que da sua janela
avistava a vila Santa Luzia. É do vasto material manuscrito deixado por este
cronista que a autora retirou as informações aqui expostas.
Terminamos com algumas reflexões de Cyro
Martini sobre o processo de remoção dos moradores da Vila Santa Luzia para a
Restinga Velha.
A partir da frase em voga na época “
Removê-los para promovê-los, Martini questiona: “ Se as terras da Santa Luzia e
de outras vilas tinham sido compradas para manter os moradores no local, porque
removê-los era promovê-los? E acrescenta: “Depois de terem conquistado o que
era necessário para viverem dignamente em suas vilas, como água, luz, escola...
porque removê-los para outro local em situações ainda piores era promovê-los? E
ademais, longe do centro! Se o DEMHAB retirasse os barracos para colocá-los em
casas novas e de alvenaria na Restinga, talvez pudesse qualificar a remoção de
promoção. Tal não era no entanto, o que acontecia.